O presidente dos EUA, Donald Trump, seu vice, J.D. Vance, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, durante encontro nesta sexta-feira (28) na Casa Branca (Foto: EFE/JIM LO SCALZO / POOL)
O aguardado acordo entre os Estados Unidos e a Ucrânia para o fornecimento de minerais estratégicos e terras raras não foi assinado nesta sexta-feira (28), após o tenso encontro entre o presidente Donald Trump e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no Salão Oval da Casa Branca. A reunião, que tinha como objetivo discutir o apoio americano à Ucrânia e selar o pacto sobre minerais, foi marcada por desentendimentos, culminando no cancelamento da assinatura.
Em publicação na Truth Social, Trump declarou que Zelensky “não está pronto para a paz se os EUA estiverem envolvidos, porque ele sente que nossa presença lhe dá uma grande vantagem nas negociações”. O presidente americano ainda afirmou que o ucraniano “desrespeitou os Estados Unidos em seu sagrado Salão Oval” e que só voltaria a recebê-lo “quando estiver pronto para a paz”.
Após a reunião tensa, Zelensky deixou a Casa Branca e a coletiva de imprensa que ocorreria posteriormente, onde provavelmente seria assinado o acordo, foi cancelada.
Pódios e uma mesa montados na Sala Leste da Casa Branca, em Washington, DC, nos EUA, onde provavelmente seria assinado o aguardado acordo de minerais entre Zelensky e Trump (Foto: EFE)
Trump citou durante a semana que o encontro desta sexta seria o passo final para selar este acordo que garantiria aos EUA acesso aos recursos minerais da Ucrânia, incluindo as terras raras, um grupo de 17 elementos químicos essenciais para diversas indústrias tecnológicas e de defesa. Esses elementos incluem: lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, escândio, túlio, itérbio, lutécio e ítrio.
Segundo informações, a Ucrânia tem vastas reservas desses elementos, e Trump via a parceria como uma “compensação” pelos “cerca de US$ 300 bilhões” enviados pelos EUA para apoiar Kiev na guerra contra a Rússia. A “explosiva discussão” no Salão Oval foi o principal motivo por trás do cancelamento da assinatura do acordo, disse uma fonte à emissora CNN, que também revelou que após a discussão, Zelensky ainda permaneceu na Casa Branca para negociar, mas foi convidado a se retirar.
Trump vinha defendendo a assinatura deste pacto como um passo para pôr fim à guerra no leste europeu, bem como um retorno do dinheiro que os EUA enviaram para a Ucrânia se defender contra a invasão russa. Contudo, Zelensky pede que os americanos apresentem garantias de segurança à Ucrânia no âmbito deste acordo, o que Trump não tem demonstrado que deseja fazer. Durante a reunião desta sexta-feira, o republicano disse que o ditador Vladimir Putin não tem interesse em novos conflitos após um possível acordo de paz, no entanto, o presidente ucraniano disse que não se pode confiar na palavra de Putin, por que ele já quebrou diversos acordos.
A importância estratégica do acordo
Terras raras são essenciais para a fabricação de produtos de alta tecnologia, incluindo turbinas eólicas, motores elétricos e equipamentos militares. Atualmente, os Estados Unidos dependem fortemente da China, que controla mais de 60% da produção global e mais de 90% do processamento desses materiais.
Em entrevista à reportagem da Gazeta do Povo sobre o assunto no começo deste mês, Frederico Bedran, ex-diretor de Geologia e Produção Mineral do Ministério de Minas e Energia, explicou a relevância geopolítica dessas matérias-primas.
“[A China] vem cada vez mais limitando a exportação tanto desses produtos quanto da tecnologia, ela vai dificultando o acesso da União Europeia e dos Estados Unidos a esses bens. Daí a importância geopolítica desses elementos”, disse Bedran.
A busca dos EUA por diversificação no fornecimento de terras raras tem ganhado ainda mais força após Pequim impor neste mês restrições à exportação de metais estratégicos como tungstênio e índio, em resposta às tarifas adicionais de 10% impostas pelo governo Trump sobre produtos chineses.
Bedran ponderou que, apesar do potencial mineral da Ucrânia, o país pode não ser a solução definitiva para os Estados Unidos competirem com a China nesse mercado.
“Esses dados [das reservas de terras raras da Ucrânia] ainda não são muito claros. A Ucrânia tem potencial geológico, não só para terras raras, mas para muitos outros elementos. A discussão é se na Ucrânia há terras raras que nós chamamos de primárias ou depósitos tipo argila iônica, que são os que nós descobrimos recentemente no Brasil, que têm um potencial competitivo muito maior, porque precisam de um investimento mais baixo, tanto em operação quanto de instalação, capex [despesas de capital] e opex [despesas de operação]”, ponderou Bedran.
