“A verdade é que tudo se deteriora. Nas primeiras décadas de vida, somos capazes de reparar esses danos”, explica Schumacher.
A partir dos 70 anos, porém, até mesmo as pessoas mais proeminentes ficam defasadas.
Tanto fatores genéticos quanto ambientais afetam nossa expectativa de vida, sendo que influências cotidianas nocivas, como a poluição, o estresse e a má alimentação, podem acelerar o processo.
O processo natural de envelhecimento também leva, ao longo da vida, a enfermidades como o câncer, além de doenças cardiovasculares e neurodegenerativas.
Prolongar a vida é possível
Os avanços na biotecnologia e nos transplantes têm o potencial de prolongar a vida em duas a três vezes, até cerca de 150 anos. Isso ainda não significa imortalidade, mas já é um tempo impressionantemente mais longo.
O desejo de uma vida bem mais extensa pode se tornar realidade algum dia por meio de terapias antienvelhecimento especiais, medicina regenerativa e intervenções genéticas.
Todas elas visam prolongar a expectativa de vida saudável e retardar o processo de envelhecimento, ou seja, a deterioração, em nível biotecnológico.
Já existem abordagens promissoras nas áreas de biotecnologia e genética. Estudos mostram que é possível interferir geneticamente no processo de envelhecimento em nível celular, por exemplo, por meio da preservação dos telômeros ou da melhoria da função mitocondrial —os telômeros são as capas protetoras nas extremidades dos cromossomos, que ficam mais curtas a cada divisão celular e ao final interrompem essa divisão, o que contribui para o envelhecimento.
Em células de levedura, essas terapias de rejuvenescimento celular e manipulações genéticas já demonstraram um aumento da expectativa de vida de até 82%.
Como base científica, isso é empolgante para as terapias de rejuvenescimento celular, mas não se sabe se essa tecnologia poderia ser aplicada em seres humanos algum dia.
Talvez seja possível aprendermos algo com o início da nossa vida, já que é nesse momento que o nosso corpo consegue zerar a idade biológica, ainda que o óvulo e o espermatozoide já sejam velhos quando se encontram.
“Em geral, é possível rejuvenescer. Pouco depois da fertilização, ocorrem processos biológicos normais que revertem a idade”, afirma Björn Schumacher.
No entanto, ainda não se compreende bem o que exatamente acontece nessa hora. E, mesmo que isso seja possível, os processos que nos rejuvenescem nas primeiras semanas de vida são incrivelmente complexos.
Transferi-los para um corpo idoso é algo ainda inimaginável.
Podemos retardar o envelhecimento
Embora ainda seja difícil rejuvenescer, existem algumas medidas que podemos tomar para, pelo menos, retardar o envelhecimento.
Segundo Schumacher, o maior dos efeitos seria obtido com a prática de esportes e a redução da ingestão de calorias. Alguns medicamentos, como a metformina ou a semaglutida, também poderiam não apenas curar doenças específicas, mas também atrasar o processo de envelhecimento.
Também há avanços em relação aos transplantes. Teoricamente, é possível transplantar e regenerar órgãos humanos continuamente para combater os sinais de envelhecimento causados pela falência de órgãos.
Mas esse tipo de transplante é uma intervenção cirúrgica invasiva que pode ter efeitos colaterais graves, afirma Schumacher. Afinal, é necessário introduzir um órgão estranho e, para isso, suprimir o próprio sistema imunológico.
Os organoides, que atualmente são usados como miniórgãos na pesquisa, também podem vir a desempenhar um papel em transplantes. No entanto, isso ainda está muito distante do presente: “É muito complexo”, diz o pesquisador.
Por outro lado, segundo ele, seria possível obter órgãos ou partes de órgãos a partir de células do próprio corpo, que poderiam então ser implantadas novamente.
A reprogramação das próprias células também é uma possibilidade que já é parcialmente utilizada.
Em pacientes com Parkinson, por exemplo, existe a abordagem de transformar células da pele em células-tronco e, em seguida, convertê-las em células nervosas especiais. No cérebro, essas células podem substituir células nervosas mortas.
O sonho (ou pesadelo) dos ricos e poderosos
Tudo isso ainda parece ficção científica —ou um filme de terror, dependendo do ponto de vista. No entanto, não se pode subestimar a inteligência artificial nesse contexto.
Muitas empresas e um notável número de líderes —um tanto vaidosos— do setor de alta tecnologia investem somas exorbitantes em “biologia computacional” e no desenvolvimento de abordagens médicas personalizadas.
O quanto a pesquisa nessas áreas realmente avançou pode ser um segredo bem guardado desses homens ricos e poderosos, que certamente concordam com o presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente russo, Vladimir Putin, que conversaram sobre “vida eterna” em Pequim: prolongar a expectativa de vida natural não é uma opção para as grandes massas.
Queremos realmente viver para sempre?
Mas a principal questão é: uma vida artificialmente prolongada ou mesmo a imortalidade são de fato desejáveis ou convenientes? Isso seria realmente uma bênção para a humanidade?
Na evolução, o envelhecimento e nossa mortalidade têm uma função muito significativa, pois promovem a diversidade das espécies e garantem recursos para as gerações mais jovens.
Em última instância, o significado da vida está em usar, de forma consciente, o limitado tempo que temos e, assim, deixar um impacto positivo na Terra, em vez de buscar a imortalidade e garantir um lugar nos livros de história.
Os dois autocratas têm 72 anos. Xi está no poder desde 2013, e Putin comanda ou participa diretamente do governo russo há mais de um quarto de século. Ambos alteraram a Constituição de seus países para poderem governar por mais tempo. E também provavelmente concordam que essas ideias de “vida eterna” não são uma opção para qualquer um.